Inutilidades Audiovisuais: Gossip Girl

É com uma vontade moderada que vos escrevo. O frio instala-se cada vez mais nos nossos ossos e as ruas preparam-se para uma folia enternecedora, principalmente se esta não fosse comprada pela publicidade que nos vende um estilo de vida, como quem vende castanhas na rua, como se a época natalícia fosse isso.

Esta ponte serve para falar da inutilidade audiovisual desta semana: Gossip Girl Season 6. Se houve série televisiva nos últimos anos que sempre quis vender um lifestyle aos jovens foi Gossip Girl, produzida pela CW Network desde 2007.

A questão de Gossip Girl, no entanto, não é assim tão transcendentalmente má. Aliás, muito pelo contrário. A série sobre os jovens ricos de Upper East Side de Nove Iorque sempre se apropriou de questões comerciais para vender uma história, aliás, fê-lo tanto que no início a série disponibilizava no website a descrição, e respectiva marca, das peças de roupa usadas pelas personagens. Esta ligação de nicho, de vender estilos de vida a jovens deslumbrados, foi decididamente uma questão preocupante, isto porque se os jovens eram comprados desta forma tão volátil então a série podia vender qualquer ideia “não-comercial”, ideológica.

Curioso, isto foi só na primeira série. Gossip Girl, de temporada para temporada foi crescendo em identidade e em género narrativo. Foi perdendo superficialidade e ganhando drama, intenso e gosmento, com 10 plot twists a cada 20 frames de duração.

Foi por isso mesmo que decidi dar um espaço à série produzida pela CW, não só porque as personagens começavam a ganhar relevância mas porque aquela história mutava-se cada vez mais para uma crónica de costumes, tão rica como glamorosa.

Há cerca de um mês estreia a temporada 6 da série. Preocupante a todos os níveis, Gossip Girl parece não estar a conseguir reciclar-se. A história já parece demasiado mastigada, as relações curtas e previsíveis, o ambiente já não convence porque simplesmente não avança. E quando avança, entra em terrenos tão escorregadios como risíveis – relação do Rufus com a Ivy?!

A inutilidade audiovisual deste mês serve como aviso em open letter a todas as séries que já não se sabem recriar. O mais perigoso nestes campos é um produto terminar a sua cruzada em percurso descendente, ou porque os produtores esticaram demasiado a corda ou porque não conseguiram ver que esta já tinha rebentado muito antes. Seja como for, espero ansiosamente pelo desenvolver de Gossip Girl, se houver um qualquer sinal de frescura e vivacidade, serei o primeiro a dar um mea culpa pela inutilidade escrita neste texto.