Everybody, rock your body right, Imagens Projectadas back, alright! (Imaginem dizer isto ao som dos Backstreet Boys, acompanhada de uma coreografia mega produzida. Fizeram-no? Boa.) O blog está de volta em grande força e eu tenho a felicidade de colaborar nele. Confesso que já tinha algumas saudades.
Lembram-se quando escrevi sobre as séries que pretendia visualizar este ano? Direi que a minha promessa tem sido um tiro um pouco ao lado. Até à data só vi Veronica Mars e Pushing Daisies. Este é o veredito: nem consegui acabar a 1ºtemporada de Pushing Daisies. Demasiado doce para mim, não consegui gostar, apesar de compreender o porquê de ser uma série de “culto”, apreciada pelo público em geral. Simplesmente não houve injeção de insulina que resolvesse o problema. Até no que diz respeito a outras séries mais recentes, ainda no ar, estou bastante atrasada, como é o caso de The Good Wife e Castle. Mas esta crónica não é, incrivelmente!, sobre esse tema. Não, ainda não desisti da minha “dieta”, continuo a querer ver West Wing, The Killing, Justified, só preciso de um empurrãozinho e de algum tempo para dedicar-me a 100% a esta atividade (olá, mestrado!). Ok não contem a ninguém, mas nos intervalos comecei a ver The Big C e ainda revi Sete Palmos da Terra – simplesmente fantástica. Isto das séries é um bocado como os livros: apesar de termos sempre já muitos para ler, comprar um ou dois novos não magoa. Séries e Livros nunca são demais.
Ora então o que me traz aqui hoje é Enlightened. Uma série que prova que qualidade não é de todo sinónimo de quantidade e que é possível em apenas duas temporadas construir uma história magnífica. A série segue a hitória de Amy Jellicoe, interpretada por Laura Dern, que é uma ex-executiva de 40 anos que tenta regressar à sua vida normal após a reabilitação, fruto de um esgotamento nervoso. Após o seu despertar filosófico, esta mulher apresenta-se com uma nova atitude mais positiva (“iluminada”) e com novos hábitos como a meditação. Amy é uma nova mulher focada no poder da auto-ajuda, quer ser uma “agente de mudança” no mundo. Contudo, nada é um mar de rosas. Ela não consegue convencer os ex-colegas de trabalho e familiares como a sua mãe e ex-marido de que realmente mudou. É novamente contratada na firma onde trabalhava embora noutro departamento, a processar dados. No fundo da pirâmide hierárquica, Amy começa a perceber que a Abaddon Industries está envolvida em maroscas corruptas. E é aqui a verdadeira aventura começa.

Os criadores (e atores) da série, Mike White e Laura Dern, fizeram um excelente trabalho, a começar pela personagem central, Amy, que deixa o espetador intrigado desde o primeiro minuto. Quem é esta louca? É que não há melhor palavra para descrever Amy, na verdade. Num momento, é uma mulher reprimida, raivosa, egocêntrica, noutro atua como se vivesse num autêntico conto de fadas, otimista, maravilhada. Apesar das suas boas intenções, não conseguimos deixar-nos de sentir desconfortáveis. A mutabilidade entre as facetas e disposições de Amy, carregada de um enorme cinismo, é deliciosa de se ver. Estamos aqui perante uma personagem feminina tão caricata, tão imperfeita. Amy Jellicoe permite ao espetador ter uma luta constante consigo próprio: gosto ou não dela? Está certa ou está errada? Amy está longe de ser uma personagem dita normal, vive à margem da sociedade, com atitudes politica e eticamenta incorretas, está “arruinada”, seguindo a mesma linha de personagens como Walter White, Nancy Botwin, Carrie Mathison, Gregory House. A série também explora os “demónios” das pessoas mais próximas de Amy – a mãe, o ex-marido, o colega de trabalho – em quem alguns episódios são centrados, permitindo ao espetador conhecer outro ponto de vista das relações destas personagens com Amy. Nesta nova fase da sua vida, ela pretende mudar também a vida dos outros, num sentido quase filantrópico, procurando desse modo validar a sua própria mudança.

“Enlightened” teve uma vida curta, devido à suas baixas audiências. A segunda season finale, com todas as possibilidades que ainda poderiam ser exploradas numa hipotética terceira temporada, acaba por ser uma series finale. Embora algo previsível (a narrativa da segunda temporada vai levantando um pouco o véu para o derradeiro momento), esta series finale não consegue deixar de ser impressionante. É um desfecho perfeito, a não perder.
Recomendo vivamente a série. Faz-nos reflectir, rir, chorar e, acima de tudo, consegue alimentar-nos de esperança, procurando que cada um de nós seja, à sua maneira também, um agente de mudança validando a nossa existência.