Golden Boy apareceu no meu computador não sei como. Duvido de aparições divinas – talvez haja gosto mais refinado por altas divindades -, também creio que não foi nem um amigo que me transferiu, nem o gato.
Numa desconfiança que se iria materializar poucos minutos depois, encontro num prelúdio de Golden Boy traços que me iriam, sem quaisquer reações meta-condescendentes, causar uma enorme indisposição estomacal. Abre-se o episódio com bandeira americanas, o chamamento nacionalista e o vómito da música militar que se iria revelar como um leit motif de toda a série. Neste tipo de coisas já se sabe, material de consumo interno, todo o americano gosta, masturbando-se com combinações de bandeiras e louvores à pátria. Reminescência daquele episódio de “Newsroom” quando o avião é salvo e, sem quaisquer tipo de pudor pelo óbvio, há logo ali uma exaltação pelo herói. Típico americano: bate palmas pelo cowboy que furou o índio, baba-se todo com os obus e os tanques que partem em nome da “defesa mundial”.
Golden Boy também é assim, alegoria da defesa nacional. Os casos internos de um polícia, Walter Clarke, que ascende na carreira e passado uns anos tem o cargo de intocável, o mais jovem dos intocáveis. Um exemplo de como o make it happen na américa é caso sério, ainda vivo, sempre imortal por aquelas bandas.
Walter Clarke não tem nada de interessante. Umas pinceladas de dedução afinada com vigor inócuo, tão comum da juventude. Ao seu lado tem um apêndice, também conhecido como: o pior parceiro que as séries já viram, Don Owen.
Owen é a típica figura paterna que chateia só por existir. É o homem que indica o caminho da rectidão mas tem um passado medonho, por descobrir. É um cruzamento entre um pai castrador e um frustrado que se foi convencendo da impotência perante o sistema. Owen é tão péssimo que uma pessoa chega a ser impelida para torcer pelo Arroyo, outro arquétipo de polícia menos justo e mais matreiro que entra em competição com golden boy.
Nestes intermédios de personagens falhadas ainda se junta os seguintes tópicos narrativos: background de família destruída, “aquele” caso nunca resolvido que vai servir de compensação moral mais tarde na trama, chefe de polícia apenas decorativos e (melhor de todas) uma prolepse inicial que começa sempre com uma lição de moral, ensinada pelo decorrer do episódio.
Tudo coisas boas. Mas evitem, caso possam.