Series-Gazing XX: Ensaio Sobre a Crítica

Começo esta crítica por felicitar a rubrica que hoje atinge a maioridade. Sim, é verdade… 20 anos (críticas) não é para ser tomado de ânimo leve. É olhar ao que está para trás, a uma viagem cheia de curvas e contra-curvas, de gostos e desgostos e reflectir sobre tudo o que já se viu, se presenciou, se viveu.

O mês de Fevereiro termina amanhã e com este “fim” espero que leve o frio com ele. Farto, fartinho, de chegar a casa, meio zombie, e adormecer a ouvir o vento gélido lá fora a soprar. Estremece-se a alma, tiritam as extremidades do meu corpo, idealizo bebidas quentes e um aquecedor aos meus pés. Talvez por causa do tempo (razão estúpida, não é), a minha vontade de ver séries (e filmes) perdeu-se um pouco. Perdeu-se e eu não entendo porquê… Outrora usava-as como companhia, hoje a companhia é outra (em todos os sentidos). Perco-me, actualmente, pelas páginas de livros porque aquela necessidade fervorosa de viver uma história e sentir o papel na pele é algo com que, futuramente, não poderemos contar, provavelmente.

black-mirror

Entre o término e o começo de dois livros, perdi-me com uma das melhores séries do ano passado e que abanou muitas idealogias que se encontravam na minha cabeça. Falo de “Black Mirror”, aquela série que, em três episódios, retrata uma situação, uma população, uma família, levando-a a um extremo tecnológico ou moral, de maneira a que as personagens principais se vêem presas em dilemas, em decisões difíceis que, quem sabe um dia, serão as nossas!

Já havia comentado, algures no tempo, a crueldade psicológica com que “Black Mirror” consegue pegar em assuntos que, nem nos passariam pela cabeça que fossem dar problemas, e distorce-os a seu bel prazer, mexendo e remexendo com muitas das nossas acepções sobre a nossa vida, sobre a realidade dos nossos dias. A série não pode ser sequer comparada a um livro de auto-ajuda… porque não o é! Simplesmente espelha, brilhantemente, a sociedade e coloca a nu o podre (ou aquilo que no Futuro o poderá ser). Somos humanos, somos seres de hábitos, mas também temos de ter a consciência que somos parvos. Somos parvos com alguém, com alguma atitude perante alguém, somos parvos connosco próprios e, por vezes, nem damos conta. Cometemos erros porque estamos formatados, perdemo-nos no materialismo, esquecemos as emoções que, apesar de acharmos que nos tornam fracos, deixam-nos ainda mais fortes e sobretudo, perdemos a inocência que nos permite aproveitar estes anos aqui na Terra.

“Black Mirror”, com o mais pequeno detalhe, faz-nos sentir impotentes, estúpidos e completamente idiotas. Ainda não vi o último episódio da segunda temporada (por falta de tempo) mas se há episódio que me marcou foi o 2, “White Bear”, onde o reality-TV era o centro da vida das pessoas, onde a crueldade humana é colocada à nossa frente… Sabe, caro leitor, para sermos cruéis não é preciso que haja sangue. É preciso que a outra pessoa fique completamente destruída. E é isso que a série conseguiu fazer, na perfeição… destruir por completo a imagem de alguém (que é, muitas vezes, o que as revistas nas bancas deste país e de outros tendem a fazer).

Estas histórias podiam ser as nossas, podiam ser as vividas pelo nosso vizinho do lado. Até que ponto é que, se as vivêssemos, estávamos prontos a assumir as consequências das nossas decisões? Até que ponto estaríamos nós a ir para curar a nossa alma de qualquer tiro que alguém fez sobre nós? “Black Mirror” faz-nos pensar e isso é óptimo porque rara é aquela que ainda consegue puxar o lado mais humano e, ao mesmo tempo, mais racional e conjugar tudo em 45 maravilhosos minutos. Se ainda não viu, veja. Se já viu ou está a ver, abra a mente… nunca se sabe que concepção da realidade pode mudar na sua cabeça.

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