Boudoir XXX #03 – Posso ficar por cima?

E mais um ano nos chega e com ele, as “promessas” de mais sacrifícios e tempos difíceis. E muita gente na mó de baixo. Pois então que me lembro de Sai de Baixo.

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Sai de Baixo tem tudo a ver com crise e dificuldades financeiras. E é um retrato social, ainda que exagerado, de alguma classe económica que vive de esquemas e falcatruas, para sobressair das classes inferiores, “os pobres”, a todo o custo.

Então temos Caco Antibes, um loiro e “príncipe dinamarquês, descendente da Baronesa Vah sy Fiuder”,casado com Magda. Mas enquanto Caco tenta fazer-se passar por um intelectual, Magda é burra que dói. Articular uma frase coerente é quase uma missão impossível para ela, o que gera gags bastante divertidos. Ambos viviam numa mansão luxosa e exuberante, juntamente com a mãe de Magda, Cassandra, que foi viver com eles depois de enviuvar.

Mas o destino é traiçoeiro e a justiça não dorme (?). Desta forma, a justiça faz uma auditoria nas contas de Caco, descobrindo esquemas, golpes e falcatruas. La vie en rose (francês, ui, que chique!) acaba e os 3 são despejados, forçados a abandonar a mansão. A única solução é irem viver num apartamento herança de Cassandra. O único problema é que, como é herança do pai, pertence tanto a ela como ao seu irmão, Vanderlei, mais conhecido como Vavá. Vavá não gosta da ideia e tem razões para isso, não fosse a chegada daqueles três virar a vida de pantanas de todos os habitantes do apartamento.

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É a este o ponto de partida da série. Caco vive uma relação conflituosa com a sogra e com Vavá. E nem a sua mulher escapa, com o carinho com que a presenteia: “sua anta” e “Cala a boca, Magda!” ficaram na memória de todos nós. Além disso, como ser superior que julga ser, recusa-se a trabalhar e vive a inventar esquemas mirambolantes para ganhar dinheiro fácil para “sair de baixo” e voltar a viver numa mansão. “Tenho horror a pobre!” é outra das suas frases marcantes, o que demonstra bem não só o desespero de voltar a ter uma vida luxosa, mas também o quão elitista e superior se sente.

Magda é fútil, ignorante e age de forma infantil. E não se importa com isso.

Cassandra é interesseira. A sua relação com Caco é um dos pontos fortes da série, com ele a inventar uma série de alcunhas absurdas para ela. Apesar de viver no apartamento por não ter outra opção, não tem pudor em insultar quer a empregada, Edileuza, quer o porteiro, Ribamar. Ribamar também é uma personagem hilariante, pois, por ter uma placa de platina na cabeça devido a um acidente, capta energias e incorpora a personalidade de locutores de rádio, actores, cantores, etc.

Vavá é um homem que ia aparecendo sempre com novos negócios. Quando foi obrigado a viver com os três novos inquilinos, prometeu fazer-lhes a vida num inferno, mas o tiro saiu-lhe pela culatra.

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E durante sete temporadas esta sitcom brasileira foi um sucesso. O facto de ser gravada num teatro, com a participação e captura das emoções dos espectadores era não só inovador, mas trazia uma interactividade únicas, conferindo alguma autenticidade às gravações. Muitas vezes os actores riam-se, esqueciam as falas e improvisavam devido ao público.

Além de belíssimas interpretações e de ser divertido, Sai de Baixo é uma sitcom interessante uma vez que expõe uma realidade. E o facto de me lembrar da série explica o quanto esta realidade é universal. A existência de um elitismo absurdo, onde as pessoas incorporam certos comportamentos que consideram chiques, mas onde não têm onde cair mortas. Aquela mania de se tratar as pessoas por algum tipo de grau académico, mesmo que não o possuam, só porque tem ar disso ou se vestem de fato e gravata. Como o trabalho fácil e muitas vezes obscuro, que garante dinheiro fácil, mas cheio de falcatruas não é só produto da ficção, basta ver/ler quaisquer notícias. A corrupção é um cancro da nossa sociedade e começa nos escalões mais altos, que na verdade, não são mais que a ralé e os pobres de espírito da sociedade.

Daí a intemporalidade e universalidade da série. E por isso fico tão contente coma notícia de que vão ser feitos mais alguns episódios.

E agora me despeço, que não me pagam para escrever isto e, como diria Caco Antibes, “Pobre quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.”

Pobre adora colocar mais letras do que o necessário quando quer falar bonito: Eu fui procurar o “adevogado” porque a menina “naisceu”, e ai depois teve um pobrema de “tóxxico”, mais eu tive que levar ela no “pisíquiatra” por causa que ficou tudo na maior “indescênça”!

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