Com Chuck este ano começou a moda de deixar os programas, que as fracas audiências permitiam declarar como mortos, regressar para uma temporada final de 13 episódios. Na próxima temporada é a vez de Fringe, Gossip Girls e provavelmente Community, Clínica Privada, Scandal e Body of Proof. Estas 4 com a morte ainda por confirmar, mas também com poucas garantias de passar para além dos 13 episódios.
São programas zombies, versão network. Programas zombies versão cabo. São todos os programas horríveis com audiências miseráveis que mesmo assim são automaticamente renovados para uma segunda temporada, como Girls ou Luck. Esta última apenas cancelada por cause de mortes de cavalos durante as filmagens.
A ideia de deixar os programas voltar para uma última temporada, nem é mal pensada, evita todas aquelas campanhas cretinas para salvar programas de televisão cujas audiências lhes mereceram o cancelamento e permitem o luto dos fãs. Além do que é boas relações públicas, os fãs ficam gratos de saberem que a sua série favorita vai ter um fim e não terminar com questões por responder. Aqui os fãs de Lost e Sopranos dirão para ter cuidado com o que desejam, mas isso é outra história.
O problema é que isto não é apenas um caso das networks respeitarem os fãs, mas um caso de uma temporada de desenvolvimento incrivelmente má por parte de alguns dos canais que optaram por ser generosos. Quão maus terão sido os pilotos da ABC para Clínica Privada, Scandal e Body of Proof terem tido direito a uma nova temporada? No caso de Clínica Privada, a morte não estava nas cartas por causa das audiências, a sua performance média esta temporada em adultos entre os 18 e os 49 anos, mas nos custos associados a uma série que entra na sua sexta temporada com ratings medianos. Em termos de audiências entre os 18 e os 49 anos, Clínica Privada foi o 4º melhor drama da ABC, sendo apenas batida por Anatomia de Grey, Donas de Casa Desesperadas e Era Uma Vez e batendo Castle, Revenge e Scandal. A renovação de Body of Proof, que teve uma performance média pior que Pan Am, Man Up! ou GCB é prova que ABC teve uma temporada de desenvolvimento tão miserável que nem nas escolhidas para o novo horário têm grande confiança.
Enquanto Fringe e Gossip Girl vão ter a sua temporada final para alegria dos fãs, os de Community estão duplamente desesperados. Não só a morte ocorre prematuramente, como não vai ter criador da série ao leme. É impossível imaginar Community sem Dan Harmon, e a última temporada em vez de ser encarada como uma despedida em glória poderá ser um desastre. Até uma traição ao público fiel da série, que gosta dela elitista e demasiado complexa para as grandes audiências. É que Community é a única série em que os fãs se podem, com propriedade, gabar de ser demasiado inteligente para as audiências comuns. Lidera o tabela dos programas com mais espectadores com 4 ou mais anos de ensino superior, ao contrário, por exemplo, de Chuck, embora os seus fãs usassem frequentemente esse argumento para justificar as fracas audiências.
Até pode ser que a versão de Community para tolos anunciada para a próxima temporada suba nas audiências, mas será à custa de perder a sua identidade e os seus fãs mais acérrimos. Quem vê agora Community vê a série pela entrada no universo de Dan Harmon e não porque o Joel McHale é giro ou por causa do decote de Annie. E de certeza que não é a por causa de Chevy Chase. Temo que aconteça a Community nesta última temporada o que aconteceu a Better Off Ted na sua segunda temporada. Uma total descaracterização do da série e um empurrar dos temas românticos. Better Off Ted morreu no fim dessa segunda temporada sem ninguém a chorar a perda de uma grande série (que foi durante a primeira temporada) e sem aumentar as audiências. Apesar de ser transformada em mais uma sitcom tola.
O curioso é que enquanto toda a gente está preocupada com o destino de Community pós Dan Harmon, ninguém se deu conta que os produtores executivos de Clínica Privada foram despedidos. Porquê? Porquê se tratava de dois amanuenses trazidos pela ABC, o segundo par de amanuenses postos a gerir o programa desde que Marti Noxon partiu a meio da segunda temporada. Amanuenses como aqueles que vão tomar conta de Community. Produtores que nunca criaram nenhuma série digna de nota, mas geriram algumas muito banais criadas por outros. Gentinha que sabe gerir orçamentos, sabe meter a cena dramática ao minuto 38 e pouco mais.
Community foi renovada por questões financeiras: Vai render em syndication e a Sony é conhecida por vender o peixe deles (muito) mais barato quando sabe que vai conseguir vender off-network (já conseguiram um acordo chorudo com a Comedy Central).
Claro que Community não vai ser a mesma sem Dan Harmon, mas os dois produtores que vão tomar conta da série criaram Aliens In America (uma temporada, engraçadinha), foram responsáveis pelo (mau, mas algo honroso) piloto da versão americana de The IT Crowd, foram produtores em Just Shoot Me! e recentemente foram consultores em Happy Endings. Vou-lhes dar uma hipótese. Muito provavelmente não vai ser a mesma coisa, mas tendo em conta o que já saiu cá para fora (texto do Dan Harmon, memorandos internos, etc.), acho que ainda pode haver uma hipótese de Community sair a ganhar.
Claro que sair a ganhar com showrunners diferentes e às 20h30 a seguir a uma série completamente diferente vai ser um milagre. Mas se há quem acredite no Milagre do Sol em Fátima, eu acredito no Milagre de Greendale.