Boudoir XXX #01 – You may kiss me now

‘Allo ‘Allo! Dis is Nighthawk.Hum, não não é. E não estamos em França embora goste de pensar em mim como sendo da Resistência.

E assim começa a minha crónica. E nada melhor do que começar com uma saudação que é sinónimo de risadas e peripécias sem fim.

‘Allo ‘Allo é mais um belo produto da BBC, que surgiu no início dos anos 80, muito antes da BBC ser Absolutely Fabulous ou antes de tudo se passar num The Office (o original, aquele incisivo, com o Ricky, não a versão rabiló). Trata-se de uma sitcom, daquelas mesmo trve, sem precisar do risinho samplado em cima para nos fazer pensar “ah, se calhar era suposto rir!” (e antes que me venham para aqui gritar FRIENDS, eles tinham mesmo uma audiência que ia ver as gravações).

Então, estamos no início dos anos 80, nos EUA surgia aquele carro XPTO que interagia com o condutor, um mafarrico que anos mais tarde estaria numa qualquer praia de Malibu com uns calções vermelhos e montes de raparigas a transbordar silicone, e, ironia do destino, anos depois, estaria no youtube a comer hambúrgueres no chão. Sim, um bocado etílico. Um bocado.

Nos EUA dominava o glitter and gold, a luta contra o mal em tons néon e bimbalhada ao molho (Miami Vice, anyone? O império da meia branca e das jóias de ouro), a esperança nos sonhos dos jovens “Fame! I’m gonna live forever!”, entre outros.

Mas nós somos o velho continente, mais cultural, mas soturno. O que fazer então? Pegar num tema relativamente recente, que marcou a Europa toda e parodiá-lo, com classe e inteligência. É isso que os Europeus fazem. E resulta. De forma genial.

Sob a premissa do confronto durante a 2.ª Guerra Mundial, encontramos várias personagens de vários lados da guerra. Personagens tipo, qual Auto da Barca do Inferno, que representam bem o clima político e social da época. Encontramos então, numa pequena vila francesa, um café acolhedor numa vila pitoresca gerido por um francês, René. René mantém boas relações com alguns oficiais alemães, que, a troco de algum divertimento com as empregadas de René, lhes fornece alguns bens como gasolina e mantimentos. René é casado, mas mantém affairs em simultâneo com as duas empregadas e a ambas promete fidelidade e amor eterno. E aqui temos o arquétipo do amante francês, um charme irresistível sem ninguém saber muito bem porquê. O je ne sais quoi, mas que, convenhamos, no caso de René está mesmo absent. Apesar de ser extremamente irregular, esta espécie de aliança funciona e é proveitosa para ambos os lados. René mantém o negócio e os alemães, bem, divertem-se durante a guerra.

Mas tudo muda quando os alemães resolvem roubar parte do espólio de uma cidade que ocuparam, como forma de garantirem algum dinheiro caso a guerra acabasse mal para os lados deles. Simultaneamente, a Resistência Francesa, representada por Michelle e composta por um número considerável de mulheres de mackintosh (o casaco, não o computador da maçã) e boina, qual representação da Liberdade de Delacroix, decidem que o café de René é o local ideal para esconder ingleses que vinham com a missão de ajudar. Claro que os alemães tomam conhecimento da Resistência e das suas intenções e ameaçam denunciar René (sinónimo de fuzilamento) caso este não esconda, também no seu café, os artigos roubados. Entre os artigos, destaque para um relógio de cuco e um quadro, The Fallen Madonna (With The Big Boobies), que apresenta semelhanças notáveis com a secretária do Coronel, Helga.

Como se não bastasse, Hitler fica a saber do roubo e determina que um oficial da Gestapo, Otto Flick, averigúe o que aconteceu. Otto Flick é todo ele um cliché: a sua maneira de estar fria, altiva e dominante, a roupa em couro, fisicamente um ariano. E essa sua maneira de ser desperta muitas paixões. Pelo meio, um oficial alemão homossexual também aparece, embora seja um segredo só desvendado porque o mesmo se apaixona por René.

E durante 9 temporadas assim foi. Peripécias constantes, resolver um problema, arranjar dois. Intrigas, muitas gargalhadas, muitas confusões e mal entendidos. E sotaques. Sotaques brilhantes, pois embora todos falem inglês, todos têm os sotaques dos países das suas personagens, de modo a que, na teoria, ninguém se perceba. Jogos de palavras e aquela coisa que os Queen popularizaram, innuendos, são mais um dos ingredientes que compõem esta bela salada, que não é russa, mas sim europeia.

‘Allo ‘Allo é um daqueles amores que nos estimula, com as suas referências e gag’s e nos faz rir. Absolutamente obrigatória a sua visualização, preferencialmente com boa companhia.

E agora com tanto french, e como escrevo isto a um domingo e é dia de família, vou tentar esquecer-me de um french kiss e pensar em trincar um croissant. E não, não lhe vou oferecer resistência. E será que I shall say dsiz only once?  Não, não mesmo

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